sábado, 28 de novembro de 2009









"Depois de uma cansativa luta contra o câncer, com tristeza recebemos a notícia da morte do pastor Jorge Rehder. Na madrugada de ontem (dia 8), Rehder partiu para estar com Cristo.

É bem possível que você não conheça seu rosto, mas com certeza você já cantou ao menos uma de suas canções. As músicas de Jorge Rehder foram e são cantadas nas igrejas brasileiras e em outros lugares do mundo. É autor de "Barnabé", "Unidade e Diversidade" e "Rei das Nações", só para citar três entre as mais de 130 já gravadas. Algumas compôs sozinho, mas também tinha parceiros, como Guilherme Kerr, Nelson Bomílcar e Jorge Camargo.

No domingo houve um culto de gratidão a Deus pela sua vida no Projeto Raízes, e hoje (dia 9) aconteceram o culto de despedida e o sepultamento, no Cemitério do Morumbi.

Jorge Rehder era dentista e fazia parte da equipe pastoral da 1ª Igreja Evangélica Projeto Raízes, onde coordenava o Ministério de Louvor."

Fonte: Revista Ultimato

sábado, 14 de novembro de 2009

O custo do não-discipulado
Ricardo Barbosa

Em 1937, o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer publicou seu famoso livro “O Custo do Discipulado”. Uma exposição do Sermão do Monte, na qual ele comenta o que significa seguir a Cristo. O contexto era a Alemanha no início do nazismo. Sua preocupação era combater o que ele chamou de “graça barata”, essa graça que oferece perdão sem arrependimento, comunhão sem confissão, discipulado sem cruz. Uma graça que não implica obediência e submissão a Cristo. Seu compromisso com Cristo e sua cruz o levou a morte prematura em abril de 1945.

“O Custo do Discipulado” é um livro que precisa ser lido pelos cristãos brasileiros do século 21, com sua fé secularizada, sua moral relativizada, sua ética minimalista e sua espiritualidade privada e narcisista. A “graça barata” tem nos levado a conceber um cristianismo medíocre e uma espiritualidade que não expressa a nobreza do reino de Deus.

A fé cristã não é o produto de uma subcultura religiosa. Também não é apenas um conjunto de dogmas e doutrinas que afirmamos crer. É , antes de tudo, um chamado de Cristo para segui-lo. Um chamado para tomar, cada um, a sua cruz de renúncia ao pecado e obediência sincera a tudo quanto Cristo nos ensinou e ordenou.

Muitos olham para este chamado e reconhecem que o preço para seguir a Cristo é muito alto. Esta foi a preocupação de Bonhoeffer. De fato é. Amar os inimigos, abençoar os que nos rejeitam, orar por todos os que nos perseguem, sem dúvida é muito difícil. Perdoar os que nos ofendem, resistir as tentações, buscar antes de qualquer outra coisa o reino de Deus e sua justiça e fazer a vontade de Deus aqui na terra como ela é feita nos céus, não é fácil. Resistir aos impulsos consumistas numa cultura hedonista, preservar uma conduta moral e ética elevada em meio a tanta corrupção e promiscuidade definitivamente tem um preço muito elevado. Porém, precisamos ver tudo isto por outro ângulo.

Se o custo do discipulado é alto, já imaginou o custo do não-discipulado? Se amar o inimigo é difícil, tente odiá-lo! Se honrar pai e mãe é custoso, pense na possibilidade de não fazê-lo! Se viver em obediência a Cristo, renunciando o pecado, exige muito, procure ignorar isto!

Vivemos hoje uma sociedade enferma. O número de divórcios aumenta cada dia. O número de filhos que desconhecem o pai é alarmante. As doenças de fundo emocional multiplicam-se. A violência cresce. A corrupção parece não ter fim. Os transtornos psíquicos na infância assustam os especialistas. A raiz da enfermidade pessoal e social, em grande parte, é o não-discipulado. Não considerar os mandamentos de Cristo, seu magnífico ensino no Sermão do Monte, seu chamado para a renúncia ao pecado e a necessidade de diariamente tomar a cruz da obediência para segui-lo tem um custo incalculavelmente maior.

Jesus nos conta a parábola de um homem que descobriu um grande tesouro que estava escondido em um campo. Com muita alegria, tomou tudo o que tinha, vendeu e, com o dinheiro, comprou o campo e com ele seu tesouro. Desfazer de tudo o que tinha foi uma decisão fácil tendo em vista o tesouro que iria adquirir. Só iremos compreender a importância da contrição e do arrependimento, da confissão e da renúncia ao pecado, da obediência aos mandamentos e do valor da cruz se tivermos consciência da riqueza que nos espera.

Pagamos um alto preço pela “graça barata”. Nossas famílias sofrem por causa dela. Nossos filhos encontram-se confusos e perdidos. A nação afunda-se na lama da corrupção, da violência e da promiscuidade. Nossas igrejas transformaram-se em centros de entretenimento religioso, com um comércio de falsas promessas em troca de um evangelho sem cruz e de um reino onde cada um é seu próprio rei.

O chamado de Cristo para sermos seus discípulos, com seu “alto custo”, é o único caminho possível para a liberdade. A única opção para a verdadeira humanidade. A única esperança para nossa sociedade enferma. Se seguir a Cristo exige muito, lembre que não segui-lo vai lhe custar muito mais.


• Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”.
Igreja e sexualidade: vamos discutir a relação?
Vânia Quintão Fernandes

Sexualidade e igreja é mais que um assunto particular. É um tema que diz respeito à vida coletiva e que influencia e é influenciado pelas relações que estabelecemos com as outras pessoas.

A igreja, assim como a família e a escola, é um espaço importante de formação e fortalecimento de convicções, valores e responsabilidades, inclusive na área da sexualidade. Porém, ela tem estado tão obcecada com a ideia de que sexo é pecado que tudo que diz respeito à sexualidade não encontra espaço.

Uma pesquisa realizada pela revista Lar Cristão com 5 mil jovens cristãos traz um dado curioso e preocupante: 52% deles mantêm relações sexuais antes do casamento.1 Apesar de as igrejas se empenharem em ensinar o que é “certo” e “errado”, a pressão dos valores seculares tem vencido a batalha. Porém, por que isso acontece? Ou como podemos reverter essa situação?

Em Isaías 5.13 lemos: “Portanto, o meu povo será levado cativo, por falta de entendimento; e os seus nobres terão fome, e sua multidão se secará de sede”.

É tempo de aceitar que os jovens cristãos estão sendo “levados cativos” por falta de entendimento. Estão com fome e morrendo de sede. Não que devamos desacreditar os valores cristãos ou o que Deus quer para a nossa sexualidade, mas é importante que a igreja amplie o raio de visão sobre as pessoas e sobre a sexualidade -- que é muito mais que sexo.

Os jovens precisam considerar a sexualidade como parte de sua identidade, expressada nas relações com as outras pessoas, que são relações de prazer. É plano de Deus que os jovens desenvolvam a sexualidade estabelecendo relações saudáveis com a família e os amigos, por exemplo.

Às vezes, parece que a igreja é “caça-fantasmas”, tão preocupada com a alma que desconsidera o corpo e os sentimentos que fluem dele. Ela tem um ambiente seguro para ouvir que temos desejos homossexuais, nos acolhendo e apoiando, sem discriminação? Ou um ambiente favorável para conhecer nossos desejos e desafios ligados a masturbação, pornografia, perda de virgindade, aborto?

Que haja na igreja um espaço aberto para que os jovens, seus pais e líderes possam compartilhar o que estão sentindo, as dúvidas e os desejos, e ser fortalecidos e acompanhados segundo os valores cristãos, sem discriminação.

Nesse espaço de discussão, tirariam a sexualidade do privado e pecaminoso e a colocariam como uma dádiva de Deus (Gn 1.31), um assunto de interesse de todos e de ajuda mútua (Tg 5.16), discutindo-a nos conflitos do dia-a-dia (Rm 12.1).

Se a igreja quiser resgatar e proteger os jovens do cativeiro, precisa trabalhar de forma aberta e relacional, carregando cargas, discutindo a Bíblia e ouvindo. Só assim poderá minimizar os danos provocados pela pressão social e prevenir que os jovens pereçam na defesa de valores.

É hora de a igreja e a sexualidade “discutirem esta relação” tão fragilizada, para que vivamos uma vida plena (Jo 10.10).

Nota
1. www.eventogospel.com.br


• Vânia Quintão Fernandes é assistente social no Exército de Salvação, onde desenvolve grupos de discussão sobre sexualidade e coordena o projeto Portas Abertas, com profissionais do sexo. vania.quintao@gmail.com

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A cruz de Cristo e a espiritualidade cristã
Ricardo Barbosa de Sousa

Tenho, nos últimos anos, refletido sobre a espiritualidade cristã. Minha preocupação está voltada para a apatia espiritual, a falta de integridade e coerência entre nossas convicções e a vida, a distância entre a teologia e a oração, e o chamado de Cristo para amar a Deus com a mente e o coração. Embora este tema tenha tomado outros rumos e provocado outros interesses, nem sempre fundamentados na Bíblia ou na longa tradição cristã, ele segue sendo um grande desafio para os cristãos do século 21.

Para manter o foco numa espiritualidade cristã e bíblica, é preciso reconhecer a centralidade da cruz. A cruz de Cristo foi única no sentido de que representou uma escolha, um caminho que Jesus decidiu trilhar: o caminho da obediência ao Pai. A espiritualidade cristã requer obediência. Sabemos que no tempo de Jesus existiram muitas outras cruzes e muitos que foram crucificados nelas; alguns culpados, outros martirizados. No entanto, nenhuma delas pode ser comparada com a cruz de nosso Senhor em virtude daquilo que ela representou.

Podemos considerar que a cruz de Cristo começa a ser carregada no episódio da tentação. Ali, o diabo propõe um caminho para Jesus ser o Messias. Um caminho que representou uma forma tentadora de ser o Messias. Transformar pedras em pães, saltar do alto do templo e ser amparado por anjos, e receber a autoridade política e financeira sobre os reinos e as nações. Se Jesus aceitasse a oferta do diabo, rapidamente teria uma multidão de admiradores, de gente faminta encontrando pão nas ruas e estradas, encantada com seu poder sobre os anjos e os seres celestiais e com seu governo mundial estabelecendo as novas regras políticas e econômicas. Seria o caminho mais rápido para implantar seu reino entre os homens.

Porém, o caminho de Deus não era este. O reino que ele oferece precisa nascer primeiro dentro de cada um. As mudanças não acontecem de cima para baixo nem de fora para dentro. É um reino que vem como uma pequena semente e leva tempo para crescer. Não é imposto, é aceito. Não se estabelece pela força do poder, mas pelo coração e mente transformados. O rei deste reino não permanece assentado no seu trono, mas desce e se torna um servo.

A cruz de Jesus não significou apenas o sofrimento final do seu ministério público. Ela representou uma escolha que o acompanhou por toda a sua vida e que culminou em seu sofrimento e morte. Quando Jesus nos chama para segui-lo, ele afirma que, se não tomarmos nossa cruz, não será possível ser seu discípulo. A razão para isto é clara. Se o caminho dele é o caminho do servo obediente, o nosso não pode ser diferente. Por isto, precisamos tomar nossa cruz, e ela deve representar também nossa escolha, que é a mesma que ele fez -- uma escolha pela renúncia e pela obediência ao Pai.

O apóstolo Paulo entende o chamado de Jesus para tomar a cruz e segui-lo quando afirma: “Eu estou crucificado para o mundo e o mundo está crucificado para mim”. O caminho do mundo ensina: “Ame seus amigos e seja indiferente com os outros”. O caminho de Jesus diz: “Ame os inimigos e ore por eles”. No caminho do mundo ser o maior e o melhor é o mais importante. No caminho de Jesus o melhor é ser o menor e o servo de todos.

Podemos achar que o caminho de Cristo é muito difícil, que amar os inimigos, orar pelos caluniadores, ser manso num mundo competitivo, humilde numa sociedade ambiciosa, não é só difícil -- é impossível. Concordo, por isto o chamado é para tomar a cruz. A cruz significa renúncia, sofrimento e morte.

As opções estão diante de nós diariamente. Todos os dias somos levados ao monte da tentação. Todos os dias o diabo nos oferece suas ofertas e seu caminho, e Deus, pela sua palavra, nos revela seu caminho. Todos os dias temos de fazer nossas escolhas. Tomar nossa cruz é aceitar o caminho de Cristo, e neste caminho experimentamos uma espiritualidade verdadeira.


Ricardo Barbosa de Sousa é pastor da Igreja presbiteriana do Planalto e coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. É autor de “Janelas para a Vida” e “O Caminho do Coração”